Em Maio de 1993 aquando da edição do 1.º Livro da minha
mãe, escrevi um poema a finalizar o prefácio do mesmo. Por
vezes pego no livro, desfolho algumas páginas, leio um ou
outro “texto.dizer”, mas acabo sempre no fim por ler o
mesmo poema, aquele que finaliza o prefácio que escrevi.
Não sei porquê, há coisas que não se explicam, apesar de
acontecerem amiúde, ... de as repetirmos vezes sem conta e
não encontrarmos justificação para elas. Ultimamente,
“arredado” dos afazeres do clube, fico com bastante tempo
livre para mim, ... para mim próprio, ... aquele tempo que
precisamos para nós, ... para vivermos o dia a dia em paz,
sem que andemos a correr, mas fazendo tudo com calma, ...
deixando que as coisas aconteçam de uma forma natural.
Então escrevemos umas frases aqui ou ali, ... apontamentos
futuros de algo a nascer. Fazemos o esboço de um quadro,
mesmo que só mentalmente, ... ou então dedicamos o nosso
tempo, porque ele sobra para isso, basta querermos, ... a
coisas que achamos boas, sensatas, ... atitudes por vezes
já esquecidas, porque outrora o tempo era escasso,
esgotando-se na maior parte das vezes numa azáfama quase
que desenfreada. Sendo assim ultimamente tenho passado
bastante tempo com a pessoa que veem no vídeo e digo-vos
uma coisa, tenho aprendido muito com as mãos e a calma
deste homem de 101 , quase 102 anos. Bem haja avô Joaquim.
Já agora tomem lá o poema que leio muita vez, não me
perguntem porquê, mas são as mãos da minha mãe, ... que
dizer agora das mãos do “T’i Jaquim das Bicicletas”?, ...
talvez algum dia faça algo.
Vão e Vêm, Passam por aqui Fazem-me festas E eu
Sinto, Vejo E olho, Percebendo-as a passar
Aqui à volta Ali, Como se tudo fosse delas. São
as mãos de minha mãe Que por vezes Me parecem
Macias Ásperas E duras, Como duro é o trabalho
De tantos anos. As mãos ... As mãos da minha MÃE ...
João Laia Coimbra, Maio 93
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