Prefácio

Coube-me também a mim, desta vez,
escrever algumas palavras sobre minha
Mãe. Eu, que aparentemente não fui
bafejado pelo gosto da escrita e da poesia.
– Farei o meu melhor.
Minha Mãe! Que também foi meu Pai! E
que com a sua força e dedicação aos filhos,
fez com que não sentisse tamanha falta.
Minha Mãe, que devido às circunstâncias
e dureza da vida, tudo fez para nos criar,
levando a que por vezes tinha de estar
ausente grande parte do dia. Numa
dessas situações, talvez por saudades, ao
ver o seu cansaço e na minha ignorância
de adolescente, atirei: – Mãe, tu não
tens necessidade de trabalhar tanto. Tu
tornaste-te numa máquina sem botão de
desligar – Ela riu-se e disse: – Meu filho, se
Deus quiser, um dia terás os teus filhos, e
depois verás. Espero que não necessites de
trabalhar tanto!
Mais recentemente já nos lembramos
deste episódio e comentou: – Pois é, meu
filho, pareces uma “máquina sem botão de
desligar”. Os pais fazem tudo pelos filhos! –
Sim hoje percebo, minha Mãe não trabalhava
todas aquelas horas porque queria, apesar
do seu gosto pelo trabalho, mas sim por
necessidade de garantir que não nos faltava
nada, que nos dava um curso. Por isso, lhe
estou eternamente grato.
Minha Mãe não me deu só isso. Deu-me
outra coisa difícil de quantificar. Deu-me
o seu exemplo, o gosto pelo trabalho, o
sentido de família. Eu tentei e continuarei,
sempre, a seguir o seu exemplo.
Neste terceiro livro “QUOTIDIANOS” dá
continuidade à sua veia poética, gosto pela
escrita, que não parece abrandar, apesar
dos seus 88 anos e cansaço de suas mãos,
que já vai arrancando alguns lamentos de
dor.
No entanto, a vontade de transmitir
conhecimento, através dos seus versos, e
divertir os outros, leva sempre a melhor
e surge mais um poema… Um episódio da
sua vida… Um sentimento que gosta de
transmitir.
Recordarei para sempre o brilho nos seus
olhos quando nos lê mais um dos seus
escritos. Em especial quando o faz, em
reuniões familiares e na presença de seus
netos e bisnetos.
Assim, após nos criar, e com mais tempo
para si, colocou este seu dom ao serviço
dos outros. E como tem sido gratificante
ver a sua alegria, a sua satisfação por poder
ajudar, no momento da doação dos lucros
da venda de seus livros às instituições que
temos escolhido.
Obrigado, Mãe! 


Nuno Laia, 2023